quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Os caminhos contrários....

Cada dia mais, acredito q a mudança acontece no caos..... tava fuçando a net e vi isso... achei inicialmente e superficialmente incômodo e equivocado.... q inocente e pretencioso achismo... um texto forte, indigesto e pra ler repetidas vezes.... conciso, atual, hipermoderno.... vital pra quem acredita no poder da comunicação visual.... vale a leitura....

CANIBALISMO OU ANTROPOFAGIA?

A Folha de São Paulo desse último domingo fez um especial sobre o que eles chamaram de totalitarismo fashion - nome provacativo, mas com uma certa incompletude pois essa é apenas uma das facetas da moda e responde a um modo de encarar seu sistema, mas não a sua totalidade. Mas com certeza vale a leitura!Alcino Leite fez uma entrevista interessantíssima com o filósofo Lars Svendsen, autor de “Fashion - A Philosophy”.Revisionista de uma posição mais afirmativa do meio intelectual em relação à moda, tendência concretizada nos anos 1980 por Gilles Lipovetsky e seu clássico “O Império do Efêmero”, o que mais impressiona no autor nórdico é sua firmeza crítica como a afirmação abaixo.
FOLHA - Para o sr., a criação em moda responde sobretudo a solicitações internas, sendo a própria moda incapaz de um diálogo com “a evolução política da sociedade”. Por que a moda é tão impenetrável aos acontecimentos sociopolíticos?
SVENDSEN - Há várias razões para que isso aconteça. Uma questão evidente na moda, e em muitas outras disciplinas estéticas, é que a maior parte da moda é baseada em modas anteriores, assim como a maior parte da arte é feita a partir de artes anteriores.Se você quiser explicar uma determinada moda, é mais provável que encontre uma resposta plausível analisando modas passadas, em vez de tentar enxergar a moda como reflexo da realidade política ou social.Além disso, a moda possui uma capacidade incrível de apagar o significado simbólico de tudo o que incorpora.Foi por isso que Che Guevara pôde tornar-se um item altamente vendável em um sistema de moda capitalista. Nas camisetas com sua imagem, não resta praticamente nada da política revolucionária de Che (nem de suas mãos ensangüentadas, já que ele torturou e executou prisioneiros políticos).Quando se vende moda, vende-se um valor simbólico; ao mesmo tempo, a moda tende a apagar esse valor simbólico muito rapidamente, de maneira que precisa constantemente buscar novos valores simbólicos que possa “canibalizar”.E o underground é um dos maiores fornecedores de tais valores simbólicos.
Não consigo enxergar só até esse ponto e nem acredito que o valor simbólico é totalmente perdido quando transposto para o signo da moda, como analisei na conduta e no trânsito do lenço palestino. Sim, seu valor simbólico é modificado - como por exemplo uma criança brincar com uma coroa de rei falsa - mas ainda carrega o valor passado em suas tramas - pois ainda existe no caso da coroa e da camiseta do Che o significado de realeza. Entendo que a moda age como algo antropofágico, devora-se o antigo valor, mas renova-se o valor simbólico, o incorpora de uma outra forma - como os canibais acreditavam ao devorar um guerreiro inimigo que estavam possuindo seus dons - e ele não fica apenas como peça folclórica ou de um passado distante. Ele ganha sentido em nosso tempo, uma camiseta do Che Guevara não tem o mesmo valor simbólico do que aquela usada pelos estudantes da década de 1970, mas ela ainda tem valor vivo, se renovou e não é uma peça do passado.A moda está muito mais pra Oswald de Andrade do que pra Hannibal Lecter.

http://dusinfernus.wordpress.com/

Um comentário:

Vitor dus Infernus disse...

só na deglutição do bispo Sardinha